Na mata do bosque da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT/Cuiabá), entre árvores de troncos retorcidos e de cascas grossas
características do cerrado, uma parede de plástico transparente enforma,
deforma, reforma ou simplesmente institui novas formas, sempre provisórias, a
um conjunto de corpos que se confundem entre a vegetação, o solo e a tela
translúcida do material sintético.
Era noite, e um fio de pequenas lâmpadas e um holofote davam a ver distintas formas
corporais que se constituíam e se refaziam no entorno daquela espécie de
ambiente-corpo ou corpo-ambiente.
Para um movimento qualquer, em que corpos enroscavam-se e
fundiam-se com o próprio ambiente natural e artificial, havia uma forma
equivalente relacionada a cada pequeno gesto produzido no momento. O corpo,
ali, sempre monstruoso, na medida em que constantemente reinventado e
apresentado como diferença, ganhava a condição de um corpo em processo.
Além do material plástico, a in-corpo-ração envolvia, muito certamente, folhas secas caídas no
chão, pedregulhos roliços ou pontiagudos sob a sola dos sapatos e tufos de
poeira fina que aderiam também ao processo de produção dos corpos.
Um grupo de pessoas observava o processo de produção deste
corpo-ambiente, produzindo registros com máquinas fotográficas profissionais ou
com equipamentos de telefones celulares. O corpo ali já ganhava em extensão na
virtualidade do registro digital.
Em se tratando de mata de cerrado, a cena provavelmente era também
observada de cima por pássaros silenciosos tentando dormir, lagartos discretos
camuflados por entre galhos e insetos voadores que atravessavam o local.
A cena, provisoriamente descrita (ver foto), é da
performance “Não cabe mais, gente”, desenvolvida pela atriz e diretora teatral
Daniela Correa Leite e parceiros de artes cênicas, apresentada na noite de 11
de junho de 2015 durante a Conferência Brasileira de Folkcomunicação.
Daniela e amigos realizavam esta versão da performance na
mata da UFMT, a poucos metros do Centro Cultural, enquanto o Conjunto de
Violões e a bailarina e coreógrafa Elka Victorino se apresentavam no Auditório
com repertório de tangos, música popular brasileira e música pop internacional.
Sobre a performance
“Não cabe mais, gente”, que teve sua primeira produção em
maio de 2015, constitui a série de trabalhos em experimentação por Daniela
Correa Leite no questionamento que vem produzindo nos últimos meses sobre o
ator/atriz não como aquele que representa, mas aquele que performa a cena
teatral.
A experimentação poética faz parte também dos ensaios e
debates sobre artes cênicas que Daniela Leite vem produzindo como mestre e
agora doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura
Contemporânea (ECCO) na UFMT.
Participaram da performance na Folkcom 2015 amigos de
Daniela Leite que estavam no evento e membros do Coletivo à Deriva, coordenado
pela professora Maria Thereza de Oliveira Azevedo, do ECCO-UFMT.
Texto: Assessoria de Comunicação Folkcom 2015.
Foto: Ângela
Coradini
0 comentários:
Postar um comentário